Conta um mito que Ossayn, orixá guardião do segredo das folhas, encontrava-se em uma disputa com seu irmão Olubiquin, dono das raízes. Os irmãos disputavam entre si para ver quem era mais importante, quem seria mais digno de ser lembrado e venerado.
Para vencer a contenda, Ossayn teria feito um pacto com as Senhoras, pedindo a elas que o fizessem reconhecido e respeitado por todos. Ao que tudo indica, o pacto deu certo: enquanto as folhas e o seu dono são parte fundamental de todos os ritos religiosos dentro dos Candomblés brasileiros, Olubiquin e suas raízes parecem não ter tido a mesma sorte, sendo esta uma entidade pouco lembrada no Brasil.
Sem deixar de reverenciar o grande guardião das ewé, a campanha Olubiquin deseja chamar a atenção para a importância de pensarmos as raízes – materiais e simbólicas – que marcam as comunidades de terreiro e sua vinculação com a natureza.
Durante os próximos dois meses, a campanha virtual divulgará conteúdos sobre o impacto das mudanças climáticas para comunidades de terreiro, buscando promover uma reflexão em torno de temas como racismo ambiental, extrativismo, saneamento básico e formas sustentáveis de desenvolvimento, sempre a partir das perspectivas e da linguagem própria dos povos tradicionais.
Na região metropolitana do Rio de Janeiro, a grande maioria das comunidades de terreiro encontra-se em municípios da Baixada Fluminense, um território altamente propício a enchentes e alagamentos. Estudos apontam que o aquecimento global deve gerar, nas próximas décadas, o aumento do nível do mar e a consequente piora do escoamento da água das chuvas na região, aumentando a frequência de desastres ambientais como enchentes e inundações.
Especialistas acreditam que o impacto será ainda maior nas regiões mais pobres desses municípios, aprofundando o ciclo de pobreza dessas regiões.
Nesse contexto, como preservarmos o enraizamento de nossas comunidades, a nossa vinculação aos nossos territórios e solos sacralizados?
Como comunidades de terreiro da Baixada Fluminense tem sido impactadas pelo regime de chuvas na região, e o que está sendo feito para protegê-las desses impactos?
Seria possível pensar que os povos tradicionais de matriz africana, a partir de seus saberes e tradições, são agentes estratégicos para garantir uma maior resiliência climática e formas de desenvolvimento mais sustentável em seus territórios?
São perguntas como essa que a campanha Olubiquin pretende colocar para jogo ao longo das próximas semanas. Fique ligado nas redes sociais do Ilê e também no nosso site, que tem coisa boa vindo por aí.
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